São Paulo, 20/07/2023 – A Nestlé vai investir um total de R$ 2,7 bilhões em suas fábricas no Brasil de biscoitos e chocolates de 2023 até 2026. No último ciclo, de 2019 a 2022, o montante foi bem menor, por volta de R$ 1 bilhão. Cerca de 50% do total será destinado à modernização e ampliação de capacidade das linhas de produção existentes, outros 30% em inovação e desenvolvimento de novos produtos e linhas, e 20% em pilares de Meio Ambiente, Social e Governança (ESG, na sigla em inglês) na operação das fábricas.

“Esse investimento que passa de R$ 1 bilhão para R$ 2,7 bilhões se fundamenta na confiança que temos no mercado brasileiro. Temos essa confiança porque esse mercado cresce já há algum tempo. Cresce acima da curva em nível mundial. Uma das razões para isso é que o consumo per capta no País ainda é baixo”, diz o vice-presidente de Chocolates e Biscoitos da Nestlé Brasil, Patrício Torres, ao Broadcast. Para ele, a alta competitividade de fabricantes locais, regionais e globais no País também ajuda a impulsionar o crescimento.

De acordo com levantamento da Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Amendoim e Balas (Abicab), em parceria com a Consultoria KPMG, a produção de chocolates cresceu 9,8% no primeiro trimestre de 2023, em comparação ao mesmo período do ano passado. O volume atingido foi de 219 mil toneladas. Em 2022, a produção chegou a 760 mil toneladas, representando uma expansão de 8% em relação a 2021. Para se ter uma ideia de como esses números chamam a atenção da companhia suíça, o total a ser investido nestes três anos no País representa mais de 50% do que a Nestlé vai investir no mundo em chocolates e biscoitos.

“O crescimento do mercado gera confiança para fazer investimentos e também a necessidade de fazer inovações. Estamos fazendo um grande investimento em quatro linhas novas. Virão outras à frente. São linhas que não tínhamos no Brasil, nem na Nestlé, nem na concorrência”, afirma Torres. As linhas a que ele se refere são de biscoitos e da marca KitKat e já estão disponíveis, graças ao orçamento turbinado desde o início deste ano.

Em relação às melhorias da operação fabril já existente da companhia, elas devem ser voltadas ao aumento de capacidade nas linhas de produção de embalagens, evolução na implantação de 5G nas plantas e maior digitalização dos processos, com o objetivo de aumentar a produtividade e ter mais eficiência.

Na divisão entre as fábricas da companhia no Brasil, 40% dos investimentos ficarão com a unidade de Caçapava (SP); 40% na fábrica da Garoto, em Vila Velha (ES); e 20% na unidade de Marília. Questionado se a recente decisão do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) – que aprovou depois de 20 anos a compra da Garoto – influenciou nas escolhas de investimentos, Torres disse que a Nestlé nunca tratou a companhia como se não fosse sua.

“Quando compramos a Garoto, há 20 anos, desde este dia até a decisão do Cade, colocamos cinco novas linhas de produtos na Garoto. Nunca tratamos a Garoto como se não fosse nossa. Fosse do ponto de vista de investimentos, de desenvolvimento de marcas ou do ponto de vista de nossas equipes. Temos pessoas na alta gestão da companhia hoje, que vieram da Garoto”, disse o vice-presidente. “Obviamente, é muito melhor ter fechado esse tema, pois ficava sempre um barulho”, complementa.

Alguma incerteza

Além do montante anunciado, a companhia vai investir ainda R$ 100 milhões em 2023 e 2024 em seu plano de sustentabilidade e rastreabilidade do cacau. Hoje, 65% do cacau que a Nestlé utiliza no Brasil vem de fazendas devidamente monitoradas e rastreadas para garantir práticas sustentáveis em relação ao meio ambiente e com exigências trabalhistas em conformidade com a lei. Em 2019, essa porcentagem era de cerca de 20% e a meta é chegar a 100% em 2025.

Sobre os 35% da produção de cacau que, hoje, ainda não tem essas garantias, Torres diz que a empresa prefere ser transparente e encarar o problema. “É melhor tornar isso transparente. Quando não se fala a verdade, isso não melhora. Já dissemos, globalmente, que vamos atingir os 100% em 2025. Definir uma rota é uma responsabilidade gigantesca”, afirma.

Ele diz ainda que a companhia trabalha nos 35% da produção que ainda não atingiu o nível desejável de práticas e rastreabilidade. “Estamos trabalhando para que os demais fazendeiros cheguem mais perto de ter as certificações necessárias. Não se torna um fornecedor certificado de uma hora para outra”, afirma.